Demi Lovato pegou o telefone ao lado da cama ao primeiro
toque.
— Estou atrasada esta manhã, Taylor
— foi logo dizendo, ao reconhecer o número no identificador de chamadas. — Não
podemos falar mais tarde?
— Ora, vamos. Isso só levará um
segundo, maninha — insistiu seu irmão gêmeo, do outro lado da linha. — Tenho
excelentes notícias e quero partilhar com você.
Demi suspirou. Um minuto de Taylor poderia equivaler
a uma hora para qualquer pessoa normal. E os dois sabiam disso.
— Bem, nesse caso, vou colocá-lo no
viva-voz para que possamos conversar enquanto termino de me arrumar — falou
resignada, antes de vestir a camisa de seda azul e começar a abotoá-la.
Como sempre, Taylor não pareceu nem um pouco
preocupado com o fato de estar lhe tomando mais tempo do que poderia dispor. E
o pior era que ele fazia isso para falar de um assunto totalmente supérfluo. Ao
que parecia, seu irmão havia conhecido uma garota "maravilhosa", nas
palavras dele, e estava pensando em convidá-la para sair outra vez.
—Você sabe como perco a cabeça diante de uma mulher
bonita, não é? — Taylor falou, rindo de si mesmo.
— Sim, e esse é seu problema, meu
caro — resmungou Demi, cruzando o quarto e abrindo a porta do closet.
— Você perde a
cabeça muito fácil.
Taylor nem se importou com o tom ácido.
Entusiasmado, contou que havia conhecido a garota na Starbucks e que após terem
se visto diversas vezes, finalmente tomara coragem para abordá-la. Em meio a
uma conversa pontilhada por adjetivos do tipo sedutora, sensual e fenomenal, Taylor
revelou que sua nova musa inspiradora era uma enfermeira que trabalhava no
setor de emergência de um grande hospital de Chicago.
— Que interessante! — ironizou Demi,
pegando uma saia e franzindo o cenho. Afinal, enfermeiras lembravam médicos e
médicos a faziam recordar do calhorda de seu ex-marido, um famoso e esnobe
neurocirurgião.
Na verdade, Sterling Knigth, seu ex, a fizera de
tola. Durante todo o tempo em que namoraram, Demi jamais havia tido qualquer
razão para suspeitar que o renomado e charmoso neurocirurgião a estava usando
para preservar sua reputação de macho man. E se, pouco tempo após o
casamento, não o tivesse flagrado em uma situação bastante comprometedora com o
jovem e musculoso jardineiro latino que contratara, ainda poderia estar presa a
um relacionamento que era uma grande farsa.
O simples pensamento fez Demi estremecer.
Felizmente, agora havia superado o trágico divórcio
e a depressão que a acompanhara. Quase permitira que Sterling destruísse sua
auto-estima. Mas isso era passado e, pelo menos, servira para ensiná-la que não
se pode confiar nos homens, ou naqueles que se dizem homens.
Alheio aos pensamentos que a dominavam, Taylor
continuou tagarelando sem parar ao telefone:
— O nome dela é Gwen. Desta vez
acho que encontrei a mulher certa para mim — comentou seu irmão gêmeo, mas
conhecendo-o como conhecia Demi percebeu que havia uma nota de ansiedade a
permear-lhe a voz.
Oh, céus, quantas vezes Taylor já dissera aquilo!
Ah, vezes demais para serem contadas dentro de um universo finito.
Por uma fração de segundo. Demi pensou em verbalizar
o que lhe ia na mente, mas, por sorte, conteve-se a tempo, não por ser sensível
demais para dizer umas boas verdades ao irmão, mas porque se o fizesse a
conversa se tornaria interminável. E não tinha tempo a perder naquela manhã.
Não quando sua vizinha, Miley Homesworth, colocava em prática sua missão de
bancar a santa casamenteira do condomínio em que moravam. O
pior era que a maior vítima daquela missão estilo Santo Antônio era ela. Demi Lovato.
Na verdade. Demi estava preparada para deixar bem
claro a Miley que ela deveria desistir de seus planos de uma vez por todas,
porque não permitiria que ninguém lhe arrumasse um namorado ou companhia
masculina.
— Bom para você, Taylor acabou
murmurando, pois ouviu o suspiro do outro lado da linha e sabia que o irmão
esperava que fizesse um comentário.
— Bom para você?! — repetiu Taylor,
incrédulo. — Acabo de lhe contar que encontrei o grande amor de minha vida e
você me diz apenas "bom para você"? Como pode ser tão insensível?!
— Desculpe, mas estou muito
atrasada — voltou a frisar Demi, ao mesmo tempo em que calçava os sapatos de
salto alto. — As segundas-feiras são sempre muito atribuladas no escritório.
Preciso desligar. Telefono para você mais tarde, meu querido.
Ouviu-se um outro resmungo do outro lado da linha.
— Ah, deixe-me adivinhar — Taylor
ironizou. — A verdadeira razão por que não tem tempo para mim é por estar
atrasada para tomar o café da manhã com suas amiguinhas do Clube da Fantasia
antes de ir para a imobiliária, certo?
Demi fez uma careta para o aparelho de telefone. A
habilidade de seu irmão gêmeo ler seus pensamentos sempre a irritara. Sim, Taylor
estava certo, antes de seguir para a sua imobiliária, especialiMiley em imóveis
de alto padrão. Demi planejava tomar o café da manhã com as outras mulheres do
grupo que se auto-intitulava Clube da Fantasia. Aos sábados à noite, quando os
homens do condomínio em que moravam se reuniam para jogar pôquer, as mulheres
aproveitavam para partilhar seus desejos mais secretos em reuniões divertidas e
pontuadas de riso e histórias sedutoras.
Bem, verdade que algumas vezes esses desejos
secretos nada mais eram do que um novo par de sapatos de um designer
ou estilista
famoso, como Jimmy Choo, ou até mesmo um novo papel de parede para a sala de
estar ou o quarto das crianças. Entretanto, como acontece com todas as amigas
que se sentem confortáveis na companhia das outras, depois de algumas taças de
vinho, a conversa sempre terminava em sexo. E fosse qual fosse a temática que
discutissem, as mulheres do grupo sempre preferiam enveredar pelos caminhos da
fantasia, cogitando como seria ter o objeto de seus desejos em um mundo
idealizado, sonhando, rindo e divagando como boas amigas que abrem o coração e
falam sobre seus sonhos e desejos mais secretos, mesmo estando cientes de que a
maior parte deles jamais passara de meras fantasias. Daí o nome do clube. Clube
da Fantasia.
Um leve sorriso curvou os lábios sensuais de Demi.
Engraçado, atualmente, Selena Gomes, Kristen Tisdale e Miley Homesworth eram
mesmo suas grandes amigas, mas havia seis meses, quando se separara, elas mal
lhe falavam. Talvez isso se devesse ao fato de que, na ocasião estivesse tão
deprimida que não seria boa companhia para ninguém. Contudo, seu bom senso
também a fazia perceber que naquela época, Kristen, Selena e Miley se sentiram
ameaçadas ao vê-la solteira na vizinhança e começaram a tratá-la como se fosse
um perigo para seus casamentos.
— Como pode fazer isso. Ali? — Taylor insistiu,
trazendo-a de volta à realidade. — Aquelas mulheres lhe deram as costas quando
se divorciou e sabe muito bem disso. Sentiram-se ameaçadas por você.
De novo. Demi comprovou a teoria de muitos
cientistas que dizem que existe uma espécie de conexão misteriosa entre gêmeos.
Aquilo era assustador.
— O que foi mesmo que elas disseram
quando souberam do divórcio? — perguntou Taylor, antes de prosseguir, imitando
um tom de voz agudo e feminino: — Demi Lovato é o que você teria se fizesse um
clone misto de Ana Nicole Smith e Pamela Anderson. Exceto, é claro, pela classe
e o diploma de Harvard. Em outras palavras, o pesadelo de toda esposa.
Demi deu um passo à frente e desligou o viva-voz.
— Certo, Taylor—falou, pegando o
aparelho.—Foi exatamente isso o que disseram, mas não as culpo por isso.
Afinal, todos sabem que uma mulher relativamente bonita,
bem-sucedida em sua profissão e divorciada jamais se encaixará na vida social
de um condomínio suburbano de classe média cheio de jovens casais.
— É exatamente o que estou querendo
lhe dizer, minha querida irmã. — Desta vez, Taylor pareceu esquecer-se de si
mesmo e da bela enfermeira por quem se dizia apaixonado. — Portanto, o que a
faz continuar vivendo em um condomínio suburbano cheio de esposas ciumentas?
— Ora, elas não têm mais ciúme de
mim e você sabe disso — retrucou Demi. — Hoje somos grandes amigas.
— Acredita mesmo nisso? — A voz
grave exibiu uma nota de preocupação. — Afinal, o ciúme é uma boa razão para
justificar o empenho de sua nova amiga Miley em tentar empurrá-la para Joe Jonas.
Demi respirou fundo diante da menção àquele nome. A
determinação de Miley em jogá-la nos braços do ex-jogador de beisebol do
Chicago Cubs, Joe Jonas, era mesmo exagerada. Além disso, Joe sempre fora o rei
dos tablóides. Todos os jornais e revistas de fofocas traziam fotos dele com
modelos famosas, atrizes de Hollywood e outras mulheres maravilhosas. Era o
típico don-juan, para não dizer o maior dos mulherengos de Chicago.
O pior é que Joe está
maravilhoso naquele comercial de cuecas que passa todas as noites no horário
nobre, pensou
Demi, mas logo afastou a imagem da figura máscula e sensual de sua mente.
— Você também é culpada por essa
situação, Ali — prosseguiu Taylor, sem poupá-la. — Por que, diabos, tinha de
vender a casa em frente a sua a Joe Jonas?!
Demi gemeu, irritada.
— Sabe muito bem que eu não fazia a
menor idéia de quem estava comprando a casa. O negócio foi totalmente conduzido
pelo advogado de Jonas.
— Isso não importa agora. O que
importa é a sua reação, minha cara. Tenho razões de sobra para estar preocupado
com o que possa acontecer. A vida de Joe Jonas parece um episódio de uma dessas
novelas mexicanas. Muito drama e mulher, se entende o que quero dizer.
Demi não tentou rebater tal argumento. Afinal, a
mídia havia exposto a vida de Joe Jonas nos mínimos detalhes, revelando tudo
sobre ele, desde o casamento com uma famosa supermodel,
havia mais de
catorze anos, o nascimento da filha, o divórcio conturbado logo depois que a
menina nascera, até a morte recente da ex-esposa em um acidente de carro e a
briga dele com a ex-sogra para ficar com a custódia da garota. Segundo o que Demi
lera, Joe havia ganhado a guarda temporária da filha e era por isso que o Mr.
Playboy tinha
trocado a vida em uma cobertura no centro
de Chicago por uma casa confortável em um condomínio familiar, tipicamente
americano, ao qual os repórteres e papparazzi teriam menos
acesso.
— Demi,
você ainda está aí?
— Depende, vai parar de me fazer
sermão?
— Claro que não! Afinal, como posso
parar de fazer isso quando suas novas amigas estão determinadas a transformar Joe
.Jonas em sua próxima desilusão amorosa. Esse homem seria o pesadelo de
qualquer irmão dedicado.
Demi revirou os olhos.
— Por favor, Taylor, você está
fantasiando demais.
—Ah, por falar em fantasia, se suas amiguinhas do
condomínio, essa versão amalucada das garotas de Desperates
Housewives, acreditam
que Jonas mudou e que será um novo homem só porque ganhou a custódia temporária
da filha, elas vivem mesmo em um mundo de fantasias. Caia na real, Jonas não
ganhou o apelido de Joe, o Lobo, à toa!
— Pode ser, mas isso não me diz
respeito—Demi argumentou, esforçando-se para não gritar. — Creio que já deixei
bem claro que me recusei terminantemente a ajudar Joe a se estabelecer no
condomínio quando as garotas me pediram para fazer parte do comitê de
boas-vindas que criaram.
— E quanto ao jantar de
sexta-feira?
Demi engasgou, e o som foi alto o suficiente para
que o irmão ouvisse do outro lado da linha.
— Vamos, minha cara, sabe muito bem
do que estou falando, do jantar de aniversário de sua amiguinha Miley — Taylor
insistiu. — E, então, vai ao jantar ou não?
— Como soube do jantar de
aniversário de Miley?
Taylor deu uma sonora gargalhada.
— Como eu poderia saber se uma de
suas amigas não tivesse me contado? — caçoou ele. — Na verdade, quando não
consegui falar com você ontem, liguei para Selena e tudo o que precisei fazer
foi indagar quais as novidades de Woodberry Park. De bom grado, a bela Selena
contou-me sobre o jantar e as esperanças de Miley de aproximar você e Joe.
— Ah, lembre-me de agradecer-lhe
por tamanha discrição — resmungou Demi, mais para si mesma do que para o irmão.
— Tudo o que você precisa fazer é
não ir à festa, querida. Recuse o convite. Será muito melhor para todos.
— Já chega! — Demi exclamou contrafeita.
— Não precisa ficar preocupado que não vou me envolver com Joe Jonas. Além
disso, a filha dele virá morar no condomínio também, lembra? E as crianças
sempre me odeiam à primeira vista.
— As crianças e os cães, diga-se de
passagem — Taylor completou, e não pôde conter o riso.
— Pois é, não tenho muito jeito com
crianças e animais, embora não saiba o porquê disso. Será que se sentiria
melhor se eu comprasse um cachorrinho e desse de presente de boas-vindas para a
filha de Joe Jonas? Os dois me manteriam bem longe do dono da casa.
— Excelente idéia. Isso,
definitivamente, me deixaria mais tranqüilo. Passe em um pet
shop agora
mesmo e compre o pobre cãozinho.
Demi colocou o relógio e disse com firmeza:
— Farei melhor, direi a Miley para
desistir dessa história de uma vez por todas ou perderá minha amizade.
— E quanto ao jantar?
— Depois que eu disser tudo o que
desejo a Miley, o jantar não será mais problema.
— Ah, querida, para uma corretora
de sucesso você consegue ser muito ingênua às vezes — Taylor falou com pesar. A
esta altura, já havia esquecido completamente a razão que o fizera ligar para a
irmã, pois o ex-jogador de beisebol se tornara um assunto mais urgente do que a
garota com quem desejava sair. Afinal, desde pequenos, ele e Demi sempre cuidavam
um do outro e podiam pressentir o perigo se aproximando, mesmo quando estava a
quilômetros de distância. — Posso apostar que se for a esse jantar Joe Jonas
estará segurando-a pelo braço, ou tocando em seus joelhos, antes mesmo que Miley
sirva o prato principal.
— Você está redondamente enganado,
meu caro, e vou provar isso — Demi respondeu, antes de desligar o telefone e
sair de casa determinada a resolver aquele assunto o quanto antes. Se havia uma
coisa que o divórcio lhe ensinara era que não poderia permitir que outra pessoa
assumisse as rédeas de sua vida e muito menos se deixar levar pelo sorriso
charmoso de um homem bonito. Mesmo quando esse homem era Joe, o Lobo, Jonas.