Historias

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

P.S Eu Te Amo - Capitulo 78

Joseph ficou parado um bom tempo, olhando pra frente. Ouviu Demetria entrar no chuveiro sair dele. Ele respirou fundo e foi até o quarto, atrás dela. Ao chegar no quarto ela estava sentada na cama, de roupão, secando os cabelos com uma toalha.

Joseph: Ma Belle, você já sabia disso. – Disse, erguendo a mão com o envelope dos tickets. Demetria ergueu o rosto, o olhar gelado pousando nele.

Demetria: O que não torna a situação mais agradável. – Disse, tranqüila.


Joseph: Não. Mas você já sabia. Não é surpresa nenhuma, ou é? – Perguntou, olhando-a da porta do quarto.

Demetria: Onde quer chegar, Joseph? – Perguntou, tirando a toalha dos fios chocolate.

Joseph: Não quero chegar a lugar nenhum. – Disse, se aproximando. – Só não entendo o porquê da sua reação.

Demetria: Esperava que eu sorrisse e abraçasse você? Que o agradecesse pela doce lembrança de que me traiu? – Perguntou, impenetrável – Desculpe, querido, é um pouco demais pra mim. – Disse, erguendo a sobrancelha.

Joseph: Ma Belle... – Ele respirou fundo – Eu não sei... Eu... – Ele procurou as palavras – Nada do que eu fizer, nada do que eu disser, vai resolver se você não quiser me perdoar. Vai ser como dar facada em água. – Disse, após se sentar nos pés da cama.

Demetria: Ótimo. Eu não quero, não posso, e nem vou te perdoar. Você vai embora agora? – Perguntou, tranqüila. Joseph rolou os olhos.

Joseph: Eu ainda tenho 06 meses, neném. – Lembrou, coçando a sobrancelha.

Demetria: O que significa que 06 meses se passaram, e você não conseguiu absolutamente nada. Salvo por algumas transas, alimentação melhor, e um filho que não vai nascer. Isso empolga você?

Joseph: Você nunca foi boa usando sarcasmo. – Condenou, balançando a cabeça pra ela.

Demetria: Nunca fui boa escolhendo maridos também. – Disse, se levantando e sumindo pela porta do banheiro.

Joseph: Ok, já vi que conversar não vai funcionar hoje. Vai continuar desse jeito comigo, por uma carta que eu nem sei quem mandou? – Perguntou, olhando a porta do banheiro.

Demetria: Não. – Disse, saindo de lá. Havia deixado a toalha, mas ainda usava o roupão. Este estava aberto, e o corpo dela, coberto pelo sutiã e calcinha pretos. Demetria se abaixou em sua mesinha de cabeceira, abrindo a gaveta e deixando um par de brincos que retirara da orelha – Tem algo que eu sei fazer direito. – Disse, fechando a gaveta e arrumando o roupão, dando o laço de novo.

Joseph: O que? – Perguntou, cansado.

Demetria: Trabalhar. – Disse, com um sorriso tranqüilo – E é isso que eu vou fazer. Pintar. Tenha a bondade de não me interromper, sim? – Pediu, terminando de ajeitar o roupão.

Joseph não disse nada e Demetria saiu, em direção ao ateliê/escritório. Ele suspirou e passou a mão no rosto, tenso. Nada bom, nada bom.
Joseph decididamente perdera a paciência no tempo em que passou sozinho no quarto. Sabia bem que errara, nunca negara. Mas ela o sabia; entendia que se aborrecesse com uma situação tal como essa, e ele iria até o inferno pra saber quem mandara aqueles malditos tickets; mas daí a se portar assim? Ele não a trataria como uma criança. Não a mimaria, nem a rodearia de ‘não me toques’. Ela não estava desavisada. Ele se levantou da posição onde estava e viu que era madrugada, não demoraria amanhecer. Ele tomou um banho demorado, esfriando os ânimos. Joseph tinha pena de quem tinha mandado a carta. Ele encontraria a pessoa, e lhe quebraria os dedos, um a um, de modo que demoraria a conseguir selar uma carta novamente. E, quando conseguisse, não se atreveria a mandar outra daquelas. Ele saiu do banheiro, reparando que passara a noite sem pregar os olhos, e foi pro closet. O rosto que o espelho do closet lhe mostrou era mais pálido que o habitual, os olhos verdes mais impiedosos, com breves olheiras pela noite perdida. Joseph apanhou uma calça abrigo, preta, e uma camiseta branca. Vestiu a cueca e logo as roupas, sem se preocupar em checar seu rosto no espelho. Saiu dali, e foi atrás dela.

Demetria: Pensei que tinha pedido pra não me interromper. – Disse, ao ouvir os passos descalços dele entrando no ateliê.

Joseph não disse nada. Fechou a porta atrás de si e foi até a janela, fechando-a, evitando o vento gelado que entrava por ela. Os cabelos de Demetria, que dançavam sendo arrastados pelo vento, sossegaram em seu ombro. Ele se virou pra ela. Ela vestia o roupão, feJustin o com um laço, e estava descalça, em frente a uma tela, com uma palheta de tintas e um pincel na mão. Joseph teve sua atenção brevemente atraída pra tela; era a mesma tela negra que ele vira anteriormente. Mas agora não havia apenas o quadrado vermelho na beira da tela. Ele crescera, virando uma tira vertical, que vinha do rodapé da tela e subia, serpenteando pela tela negra. Perto da borda se torava, ficando presa apenas por um fio, que continuava até a tela acabar (Ok, pensem na capa de Eclipse pintada em uma tela). Demetria dava os últimos retoques. Enquanto ele observava ela passou o pincel brevemente na palheta, tornando-o vermelho outra vez. Joseph respirou fundo, deixando o quadro de lado.

Joseph: Vai amanhecer. – Disse, evidenciando o céu negro, encoberto pelas nuvens, que agora vinham tomando um tom pálido de cinza.

Demetria: Percebi. – Disse, irônica, os olhos azuis concentrados em onde o pincel tocava delicadamente.

Joseph: Venha comigo pra cama. – Chamou, inutilmente – Ainda pode descansar umas horas.

Demetria: Não. Vou terminar aqui, organizar umas coisas, tomar um banho e ir trabalhar. Obrigado. – Disse, passando o pincel minimamente, corrigindo uma variação do vermelho.

Joseph: Demetria... – Suspirou, tentando manter a calma, mas antes que conseguisse encontrar a linha do raciocínio, ela o interrompeu.

Demetria: Está pronto. – Disse, se afastando da tela. Joseph passou a mão no rosto, e observou ela olhando a tela pronta com um breve sorriso no rosto – Fiz pensando em você. – Disse, satisfeita, trocando de pincel. Isso pegou Joseph de surpresa. Ele viu ela apanhar um tubo de tinta em uma gaveta, e após retirar a tampinha, deixou um nadinha de tinta cinza cair na borda da palheta. Ela sujou brevemente o pincel novo na tinta e Joseph a viu rubricar “Demetria” na borda da tela: finalizando o quadro.

Joseph: Em mim? – Perguntou, tentando achar alguma semelhança entre ele, e a fita vermelha, quase rompida.

Demetria: É o nosso casamento. – Disse, largando a palheta e o pincel na borda da mesa. O rosto confuso de Joseph se fechou de novo. A fita esta quase rompida, os dois pedaços quase separados, presos por um fio quase mínimo.

Joseph: Era pra ser engraçado? – Perguntou, olhando-a.

Demetria: Na verdade, não. Seria humor negro, não faz meu tipo. – Disse, se virando pra ele. Já não sorria, tinha o rosto sem expressão. – Daqui a seis meses eu vou fazer uma nova tela, semelhante a esta. Porém, eu vou cuidar pra que essa linha... – Ela apontou pra o traço que mantinha a fita inteira – Não exista. – Ela sorriu, deboJustin a.

Joseph: Minha paciência com você está acabando, Ma Belle. – Avisou, a voz dura.

Demetria: Sim, querido? – Perguntou, parecendo exasperada, enquanto tirava a tela do suporte, levando-a a um canto do outro lado do escritório, onde secaria.

Joseph: Você não é uma criança, Demetria. – Condenou.

Demetria: Eu sou o que eu quiser ser, e a você não cabe me avaliar. – Disse, tirando os cabelos do rosto, enquanto recolhia a tinta de volta a gaveta de onde tirara.

Joseph: Pelo amor de Deus. – Pediu, tentando manter a calma, e passando a mão na têmpora.

Demetria: Quer saber? Cansei. – Disse, fechando a mesa com baque. Joseph ergueu o rosto, mas dessa vez, pronto pra brigar.

Joseph: Você se cansou?! – Perguntou, o rosto furioso – Logo você, Ma Belle?! – Perguntou, se aproximando.

Demetria: Cansei. Na verdade, eu estou FARTA! – Gritou – FARTA DESSA SITUAÇÃO! FARTA DESSA VIDA, DESSE TEATRO, QUE DIABO, JOSEPH!

Joseph: E VEJA SÓ! – Disse, gritando na mesma altura que ela, e erguendo os braços em deboche – VOCÊ ESTÁ CANSADA, AGORA VEJA QUAL DE NÓS DÓIS TEM PASSADO SEIS MESES PISANDO EM CASCA DE OVO PRA NÃO MAGOAR O OUTRO? QUEM, DEMETRIA? – Demetria respirava aos ofegos, raivosa – QUEM TEM TIDO QUE MEDIR CADA PALAVRA, PRA MANTER A SITUAÇÃO BEM? NÃO É NATURAL, NÃO HÁ SEGURANÇA, MAS EU TENTO!

Demetria: EU NÃO ESTOU PEDINDO PRA VOCÊ TENTAR! – Insistiu, o rosto pálido adquirindo o tom vermelho da raiva – PELO CONTRÁRIO, EU JÁ DISSE DIVERSAS VEZES: DESISTA! VÁ EMBORA! VOCÊ NUNCA ME OUVE!

Joseph: IR EMBORA E LARGAR VOCÊ NO ESTADO ZUMBI EM QUE EU TE ENCONTREI? – Ele viu ela recuar, como se tivesse levado uma bofetada – É ISSO?!

Demetria: Eu posso me recuperar. – Rosnou.

Joseph: NÃO VAI SE RECUPERAR! – Rugiu, a fúria recente agora transbordando – NÃO VAI SE RECUPERAR, VOCÊ NÃO VÊ? EM QUATRO ANOS VOCÊ NÃO TEVE UMA MELHORA, VOCÊ SÓ PIOROU! NÃO HAVIA BRILHO EM SEUS OLHOS QUANDO EU VOLTEI, DEMETRIA!

Demetria: NÃO HAVIA PORQUE VOCÊ TIROU O BRILHO DELES, NÃO SE ESQUEÇA DISSO! – Acusou.

Joseph: E VOCÊ VAI PASSAR A VIDA TODA ME JOGANDO ISSO NA CARA! EU ESPERO ESSE COMPORTAMENTO DE SELENA, NÃO DE VOCÊ! – Rebateu. Ele tomou fôlego, respirando fundo. Não podia passar dos limites com ela.

Demetria: Vá embora. Deixe que eu me decomponha sozinha entre os móveis, deve ser melhor que viver esse inferno. – Disse em um silvo, ainda ofegando, as narinas infladas de fúria.

Joseph: Devia pensar melhor nas promessas que faz, neném. Eu vou ficar mais seis meses. Enquanto meu tempo durar, e acredite, eu sei a data exata. Vou lhe cobrar até o ultimo minuto. – Murmurou de volta.

Demetria: E não vai mudar nada. Vai ser igual, exatamente como agora. Eu não confio em você. – Cuspiu.

Joseph: O que mais me irrita... – Ofegou, passando a mão na sobrancelha – É que esse seu ataque não tem motivo. – Disse, erguendo os olhos verdes, furiosos, pra ela. Viu o choque atravessar o rosto dela novamente.

Demetria: Não tem motivo? – Perguntou, como se não tivesse entendido direito – Eu recebo, na minha casa, os tickets de um motel pro qual você levou alguma vagabunda. Alguém passa isso na minha cara. E eu não tenho motivos?! – Perguntou, incréSela.

Joseph: Não pra tanto, Demetria. – Disse, impaciente.

Demetria: Ah, não é? – Perguntou, entre o deboche a increSelidade.

Joseph: Não é. A partir do momento em que aceitou que eu retornasse por um ano, você se deu e me deu a oportunidade de tentar arrumar as coisas. – Começou.

Demetria: Te deixei ficar o maldito ano pra que você parasse de me seguir, de me atacar! – Acusou.

Joseph: MENTIRA SUA! – Rugiu, agora deixando sua raiva fluir livremente – É MENTIRA, VOCÊ QUERIA TENTAR DE NOVO, E VOCÊ SABE DISSO, NÃO SE FAÇA DE INGENUA!

Demetria: Que seja. Não deu certo. Só você não vê isso.

Joseph: Não tem dado certo, porque pra dar certo você precisa querer me perdoar. Precisa querer esquecer, querer confiar. Se ficar levando a magoa como um mantra, não vamos chegar a lugar algum, e olhe que eu estou fazendo das tripas coração pra agradar você.

Demetria: Ok. Da próxima vez que eu receber uma carta daquelas, eu vou ignorar. Vou te preparar um lindo jantar, e depois vou transar com você em cima da mesa. – Disse, deboJustin a.

Joseph: Já disse que você e sarcasmo não combinam. É um fiasco. – Disse, rolando os olhos – Agora, o que eu não entendo. Você já sabe que eu trai você, sabe de tudo o que aconteceu, da maioria das mulheres com quem te trai, - Os olhos azuis de Demetria foram se arregalando em choque a cada palavra dela – Sabe de toda a história. Não há necessidade pra isso.

Demetria: E VOCÊ FALA DISSO COMO SE FOSSE NATURAL! – Disse, a fúria faiscando em seus olhos.

Joseph: NÃO É NATURAL, É A VERDADE! – Rugiu de volta.


Joseph não reparou o que ela fizera. Só viu os cabelos dela ricochetearem no ar, e em seguida, tudo muito rápido, o suporte da tela estava voando em sua direção. A sorte era que ele era bom com seus reflexos. Sua mão forte imediatamente amparou o suporte da tela no ar, antes que se chocasse com ele, e o suporte quebrou; vários pedaços de madeira caíram no chão com um baque ruidoso. Joseph não teve tempo de se recuperar do choque; um livro voou em sua direção, e atingiu seu ombro, a capa dura machucando-lhe. Logo veio outro, e outro. Demetria apanhava os livros das longas prateleiras do ateliê e jogava com força em direção a ele. Joseph se esquivou do segundo, se abaixou do terceiro (que atingiu a janela de vidro atrás dela, quebrando-a, deixando-a cheia de raJustin uras). O ato de Demetria só fez atenuar sua raiva. Isso não era nada bom.

Joseph: Pára... – Tentou começar, mas teve que se tirar do caminho novamente, pra evitar que um dicionário lhe acertasse em cheio a barriga. Demetria era boa de mira, e isso não era bom pra ele no momento. – DEMETRIA, PÁRA COM ISSO! – Rugiu, se aproximando rapidamente dela, e levando uma enciclopédia pelo peito.

Próximo Capitulo...

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