Historias

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PS. Eu Te Amo - Capitulo 52

Por estar desmaiada, Demetria não viu o rompante da saída de Joseph do elevador. A camisa cinza que ele usava já estava suficiente manchada de sangue pra que a bermuda começasse a se manchar também. Ele abriu a porta traseira do carro colocando-a lá com cuidado, mas ela não viu esse cuidado, ela não reagiu, não viu nada, mole, largada como uma boneca de trapos. Joseph odiava aquela visão. Queria que ela acordasse e descesse a mão no rosto dele, esbravejando que o odiava e mandando-o ir embora. Preferia isso ao vê-la daquele jeito. Mas ela não acordou. Não viu como os pneus do carro gritaram em protesto quando Joseph saiu na rua, o carro apenas sendo um flash negro. Não viu que ele prestava mais atenção a imagem dela pelo retrovisor do carro do que a pista a sua frente, mesmo na velocidade letal em que estavam. Não viu também o banco sofisticado em camurça do carro dele ensopado com seu sangue quando ele parou na frente do hospital. Não viu que ele deixou o carro luxuoso na frente do hospital, aberto, e ainda com a chave na ignição, pouco se importando com nada, apanhando-a nos braços e adentrando ao hospital. Não viu quando levaram ela dele, deixando-o sozinho na recepção, todo manchado de sangue, o coração em frangalhos que batiam dolorosamente. Ela não viu nada.


Nicholas : Tenha calma. – Disse, vendo Joseph andar de um lado pro outro. Ele tinha um braço todo ensangüentado, com o sangue quase seco. A camisa cinza toda suja. Respirava em gorfadas nervosas. Que diabo, já faziam horas.

Joseph: Como inferno você soube que eu estava aqui? – Rosnou, andando de um lado pro outro. Nicholas  aparecera literalmente do nada no hospital.

Nicholas : Tudo depende de quem você conhece. – Disse, tranqüilo – Agradeça, se não fosse por mim teriam roubado seu carro.

Joseph: Pro inferno com o carro também. – Disse, pouco se importando.

Nicholas : Joseph, vá se lavar. Beba um copo d’agua, tente se acalmar. Nervoso assim não vai ajudar em nada.

Joseph: Daqui eu não saio. – Disse, definitivo.

Robert: Joseph. – Chamou, se aproximando, com as mãos nos jalecos.

Joseph tinha se esquecido do detalhe desagradável que Robert era o plantonista noturno naquele dia. Mas ao se virar, e ver o olhar do outro, não havia motivos pra briga. Não era o olhar de Robert, inimigo de Joseph. Era o olhar do Dr. Pattinson, medico, plantonista que recebera Demetria em seus cuidados, e o olhar dele tinha uma noticia que não precisava mais ser dita em voz alta. Joseph desabou na cadeira, pondo as duas mãos no rosto, uma dor cega o atingindo. Ouviu, de longe, Nicholas  falando.

Nicholas : E Demetria?

Robert: Se recuperando. Ela perdeu muito sangue, agora está recebendo uma transfusão.

Ela estava bem. Mas o filho deles não. As lágrimas brotaram no olhar de Joseph a força, em um soluço. Seu filho estava morto. Sua lágrima foi pra a mão suja do sangue seco, umedecendo, tornando-o sangue de novo. O sangue dela. Então sentiu uma mão em seu ombro. Não uma mão hostil, uma mão fria. Ele ergueu o rosto, os olhos cor de esmeralda enegrecidos pela dor da perda. Pra sua surpresa, era a mão de Robert. Joseph não teve forças pra repelir o toque do outro. Estava nocauteado.

Robert: Ela vai acordar logo. Vai precisar de você. – Disse, e soltou Joseph, se afastando. A dor da perda zumbia nos ouvidos dele. Então se lembrou de algo.

Joseph: Ela tinha acabado de fazer 4 meses. – Disse, e tanto Robert quando Nicholas  o olharam. – Havia um feto. – Disse, olhando pra frente.

O olhar de Joseph se cruzou com o de Robert, e Joseph entendeu. Não era um feto. Não era algo formado ainda, nem quando estava dentro dela. Agora, machucado e morto, não poderia ser distinguido. Ele soube que não queria ver. Não disse nada, apenas olhou pra frente, e Robert saiu dali.

Nicholas : Ele está certo. Demetria vai precisar de você. Ela amava demais aquele bebê. – Outro soluço daquele choro doloroso nasceu no peito de Joseph, enquanto ele olhava pra frente. Mais duas lágrimas caíram. Nicholas  tirou uma maleta Joseph não sabia de onde, e o entregou – Ai tem uma muda de roupas limpas. Eu vou mandar seu carro pra lavagem, os bancos traseiros... – Ele não preciso terminar. Joseph sabia o que havia nos bancos. - Precisa ser forte agora, Joseph.

Joseph assentiu, e pegou a maleta, se levantando. Foi até o banheiro do hospital, lavou os braços, o rosto. Se secou com toalhas de papel. Abriu a maleta, e havia uma calça, uma camisa branca de botões, e um sapato ali. Se trocou, jogando a roupa suja no lixo, e vestiu a limpa. Se olhou no espelho. Seu rosto esta pálido, mas os olhos eram piores, estavam mortos. Então se foi, indo ao quarto dela, após devolver a maleta de Nicholas . Chegando lá, teve náuseas. Ela estava deitada, agora dormindo. Havia uma bolsa de sangue de um lado da cama, e uma de soro da outra. Um tubinho de oxigênio no nariz dela. Continuava pálida, mas não havia a expressão de dor em seu rosto. Apenas não havia nada. Joseph se sentou em uma poltrona, esvaziando sua mente. Demorou horas até que ela suspirasse. Ele a olhou. O rosto dela foi se tornando claro, iria acordar. Ele respirou fundo, tomando coragem. Mas ela não abriu os olhos. A mão esquerda se moveu, subindo pela barriga, a aliança dourada reluzindo ali. Demetria tocou seu ventre, e Joseph não queria ver aquilo. Mas tinha de ver. A mão dela sondou, procurando a relevância que havia antes ali. Após alguns segundos ela desistiu. Ainda de olhos feJustin os, uma lágrima escorreu pelo canto de seus olhos, que enfim se abriram. Ela virou o rosto, encarando ele, tendo sua confirmação. Seu bebê estava morto. Demetria se acostumara em ser uma unidade dupla; comendo por dois, se cuidando por dois. Agora era ela sozinha, de novo.

Demetria: Me abrace. – Pediu, mais lágrimas transbordando de seus olhos.


Joseph se aproximou da cama dela com cuidado pra não tocar no tubo do sangue, e a abraçou. Demetria ergueu a mão, se segurando no ombro dele, e deixou o choro vir. Nenhum dos dois tinha percebido, mas esse filho era a garantia pra caso esse ano não desse certo. Estariam juntos, unidos pela criança, que precisaria do pai e da mãe. Criança que estava morta agora. Demetria sentia um vazio enorme dentro de si, um sentimento de culpa, de incapacidade; não fora capaz de segurar seu próprio filho. Não ia saber se era menino ou meAshley , não ia fazer um enxoval, arrumar o quarto, nada. Estava tudo vazio, e essa dor a sufocava. Se Joseph não estivesse ali, abraçado a ela, se ela não sentisse o calor dele, o apoio, e a dor que emanava de seu corpo, teria perecido naquele momento. Mas, enfim, ele estava lá, e ali era seu lugar.

Próximo Capitulo...

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